sexta-feira, 17 de julho de 2015

Domino's Pizza

Pronto, era só o que faltava. E não o digo no mau sentido. Não; era mesmo só o que faltava. Depois dos hambúrgueres, das lojas americanas carregadinhas de lucky charmspop tarts e twizzlers, depois dos cafés de meio litro e dos donuts cobertos de granulado colorido, eis que chegam até nós as pizzas dos filmes. E digo que chegam até nós porque, sinceramente, se tivermos de ir até Telheiras para as comer, é bem capaz de não valer a pena. Com cerca de um milhão de entregas diárias, a Domino's orgulha-se de ser líder mundial na distribuição de pizzas. Pudera...! Se as outras lojas forem todas tão mal localizadas como esta, é natural que tenha de ser a pizza a ir a Maomé.

Sítio feioso no meio dos prédios à parte - e que me perdoem os moradores de Telheiras que há-de ter lá as suas virtudes - outra das coisas que não merece a visita é o atendimento. Fomos salvos por uma gerente expedita, mas o rapaz que nos atendeu percebia tanto daquilo como eu percebo de lagares de azeite. Resultado: se não o ensinasse a mexer no multibanco, tinha trazido a pizza por 99 cêntimos. O que na volta até nem era má ideia, mas depois não podia escrever sobre isso. Colocar os nomes num ecrã, onde podemos ir controlando os minutos que faltam para que a nossa pizza esteja pronta, é uma ideia engraçada porque permite-nos ser quem quisermos, conforme a disposição. Eu fui o Bruno Vaz - mas não sei o que isso significa.

As pizzas propriamente ditas são uma surpresa agradável. A massa é bastante boa e os preços são em conta. Apesar de parecer ligeiramente mais pequena do que o habitual, uma pizza média feita à medida custa cerca de 7 euros. Também não são forretas com os ingredientes. Preferia que a cebola fosse cozinhada, mas gostei dos cogumelos frescos. Pedir jalapeños é uma daquelas coisas que fazemos porque parece cool e diferente, mas honestamente não vale a pena. O meu conselho é que não se metam nisso, mas apostem sem dúvida nas delícias de queijo como entrada. Em termos de preço, a cola de litro também compensa mais do que, por exemplo, duas latas.

A grande desilusão foi perceber que não fazem entregas para o centro de Lisboa. Mas com a promessa de que vão abrir mais lojas - uma delas no Areeiro - lá trouxe um íman para o frigorífico. Depois disso, uma amiga contou-me que quando encomendas a pizza dizem-te o nome de quem a vai levar. Parece que em casa dela assustaram à brava um empregado chamado Carlos que não sabia que isso era possível e ficou embasbacado quando se dirigiram a ele pelo nome. São pequenas coisas, mas se o diabo está nos detalhes, a Domino's pode muito bem chegar ao céu.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

100 Montaditos

O franchising espanhol chegou ao Príncipe Real no início do ano, mas foi a Primavera que me deu o empurrão necessário para experimentar as tão afamadas tapas que, no fundo, não são mais do que minúsculas sandes em baguete ou pão chapata. É giro, vá, e o preço ajuda a atenuar a desilusão. No fundo, sabemos que por 1 ou 2 euros também não podíamos pedir mais.

Não quero com isto dizer que tenha ficado particularmente desgostosa. Em primeiro lugar porque sabia ao que ia, e em segundo porque estava cheia de fome. Não tomei nota dos números pelos quais optámos (acusarei novamente a fome de toldar-me o julgamento) mas os "montaditos" de que mais gostei tinham carne desfiada, pimento e cebola crocante, queijo de cabra, tomate e - surpresa das surpresas - presunto ibérico e azeite.

A uma casa de tapas só não se perdoa a má qualidade do presunto - que aqui era translúcido e fino - ou da cerveja - provei a Cruzcampo e não fiquei mal servida. Por isso, posso dizer que os 100 Montaditos passaram no teste com um único reparo ao ar condicionado que estava de morrer.

terça-feira, 24 de março de 2015

As Asas do Vento

Do tanto que podia ser dito, torna-se difícil escrever sobre aquele que é o último filme do agora reformado Hayao Miyazaki. Quase dois anos depois da sua estreia lá fora, podem vê-lo em apenas três salas da capital e recomendo vivamente que o façam. Movido a sonhos, como o são todas as obras do magnífico cineasta japonês, As Asas do Vento é mais do que um filme sobre aviões ou a Segunda Guerra Mundial - é sim, um revisitar dos altos voos a que Miyazaki nos habituou e que dificilmente serão esquecidos.

Apesar da sua história pelos ares, é um filme com os pés assentes na terra. Mais "crescido" do que obras como O Meu Vizinho Totoro ou Ponyo à Beira-Mar, menos épico do que Princesa Mononoke e mais contido do que A Viagem De Chihiro, não deixou ainda assim de me encantar e deixar boquiaberta durante as duas horas da sua duração. Não foi recebido da mesma forma simpática no Oriente, onde Miyazaki chegou a ser acusado de glorificar o imperialismo japonês.

Visto deste lado do mundo, Jiro Horikoshi, personagem principal e criador do caça Mitsubishi Zero, afigura-se-me como um entusiasta que cria aviões de guerra durante o dia, mas sonha enchê-los de belas raparigas com vestidos esvoaçantes pela noite fora. No meio disto tudo, ainda sobra espaço para uma história de amor, um verão quente e um elogio da juventude da qual Hayao Miyazaki, com 74 anos e uma soberba imaginação, nunca poderá verdadeiramente despedir-se.

CINEMA IDEAL
15h30, 19h45

EL CORTE INGLES
14h, 16h35, 19h15, 21h55, 00h30

CINEMA CITY ALVALADE
19h40

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Vício Intrínseco

No trabalho sabiam que eu tinha ido ao cinema. Por isso, na manhã seguinte, quando me perguntaram que filme escolhera e a minha resposta não gerou qualquer tipo de esclarecimento, foi-me colocada a derradeira questão: "É sobre quê?". Devia ter-me ficado pelo inesperado e desconfortável riso algures entre o nervoso espectador de um filme de terror e o cientista louco com maquiavélicas ambições de domínio mundial. Mas não. Eu e a minha grande boca. Acrescentei: "Epá, não sei..."

"Não sabes?! Como não sabes?! Não percebeste?" E foi assim que, sendo confrontada com a constatação alheia de que eu evidentemente não entendera a adaptação cinematográfica do tresloucado romance de Thomas Pynchon, se materializou pela primeira vez alto e bom som a ideia que até aí apenas pairava na minha mente confusa. Respondi: "Eu... Acho que não era para perceber."

E de facto, parece-me agora vã e descabida qualquer tentativa de explicar o que se passa naquelas duas horas e meia de filme. Antes de escrever isto, e porque gosto de saber do que estou a falar, li uma série de críticas mais ou menos especializadas. Em primeiro lugar, e com pena minha, pouco diziam sobre a interpretação de Joaquin Phoenix. Em segundo, quase todas elas elogiavam de uma ou outra forma o autor do livro e Paul Thomas Anderson numa nuvem de fumo, utilizando palavras como "mocado" e "charro".

Apetece-me gozar com essas expressões que só me lembram os pais quando já no final dos anos 90, de cada vez que queriam parecer "jovens" nos respondiam com bué-da-fixes sorridentes, mas não posso deixar de concordar que introduzir sob a forma de diálogo duas ou três personagens novas, das quais nunca antes tínhamos ouvido falar, a cada cinco minutos de filme, é de facto motivo para dizer: mais tabaco nisso.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

O Nariz de Bergerac

Não sou um público fácil para teatro. Se por um lado não procuro as peças mais impenetráveis, experimentais e obscuras, por outro reviro demasiadas vezes os olhos às alegres patetices em cima do palco. Gosto do meio termo, aquele onde por vezes se encontra a virtude e a Companhia do Chapitô. E por isso desconfiava deste Cyrano de Bergerac meio real, meio inventado à luz do romantismo de Rostand.

Ainda assim, porque me lembrava do filme nas aulas do Mário de Carvalho e porque uma noite com amigos não se nega a ninguém, fui ser surpreendida pelo clássico e pelo heroísmo de uma personagem desfeada por um nariz quase tão pontiagudo como a espada com a qual se bate em duelos. Na sua impossibilidade de aceitar que pudesse ser amado apesar do aspecto físico, vi as mesmas barreiras que impomos a nós próprios de todas as vezes que pensamos não ser bons o suficiente. E saí dali decidida a  não ser um Cyrano. Se é para falhar, então que não seja por falta de tentativas.

CYRANO DE BERGERAC
Teatro Dona Maria II
Até 1 Março
Qua, 19h
Qui-sáb, 21h
Dom, 16h

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

O segredo está na massa

E, convenhamos, está bem guardado. A pizza da imagem aqui ao lado parece-vos deliciosa? Desenganem-se já, porque não é. A escolha foi minha, e tive de viver com ela enquanto outros devoravam hambúrgueres calóricos e batatas fritas cheias de sal mesmo em frente do meu nariz. Mas arrependi-me, ó se me arrependi!, à primeira tentativa de cortá-la com garfo e faca. Esta Santorini da Madpizza tem tudo o que seria óptimo... numa salada. Mas se há coisa que anos a fio de Pizza Hut e Telepizza nos ensinaram é que o segredo de uma boa pizza está na massa.

Por um lado, as cadeias acima referidas são tudo menos saudáveis e sim, são forretas até mais não com os ingredientes. Por outro, aquilo é receita que nunca falha: fina e estaladiça ou alta e fofa, a base está sempre no ponto. Se a Capricciosa consegue, se a Casanova o faz de forma irrepreensível, e nem as Big Slice nos deixam ficar mal, qual é a desculpa da Madpizza? É por ser saudável? Nah, a mim não me convencem. Não há saúde no mundo que justifique servir ingredientes com tão bom aspecto em cima do que mais parece uma gigantesca bolacha de água e sal.

MADPIZZA
www.madpizza.com.pt

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Isto é uma América

Foi há quase duas semanas. O homem lá de casa queria à força experimentar as novas lavandarias self-service que explodiram um pouco por toda a cidade. Vai daí, no domingo à tarde, admitindo miseravelmente a nossa falta de coisas mais interessantes para fazer, carregámos o carro com sacos atafulhados de roupa e fomos à representante mais próxima, a Cotton Club.

Confesso que já não ia muito satisfeita com a constatação de que a minha vida agora era lavar e secar roupa nos fins-de-semana, mas quando lá chegámos e vi o tempo que íamos perder e o dinheiro que íamos gastar, fiz a cara mais amuada que consegui e pus rapidamente as nossas coisas no que me parecia ser a fila enquanto rosnava entre-dentes "nunca mais cá volto".

Uma sandes, um sumo de laranja e um café depois, a situação não me parecia tão má. Afinal aquilo até foi rápido (os programas de lavagem duram 30 minutos) e acabámos por não esperar tanto como previa. Ocupámos duas máquinas - uma para roupa branca e outra para roupa colorida - mas reparei que há malta que se está literalmente nas tintas para isso. Mas quem é que não separa a roupa? Estas pessoas nunca viram Friends? Há um episódio em que a personagem da Jennifer Aniston sai da lavandaria com um guarda-roupa cheio de peças cor-de-rosa. Cor-de-rosa! 

Pagar a lavagem com moedinhas, escolher o programa... é tudo muito engraçado, mas honestamente é para quem não tem máquina de lavar em casa. Se tiverem a mesma necessidade que eu de separar aquilo tudo, vai sair-vos mais caro. Só fiquei verdadeiramente fã da secagem. Por 1,50€ a cada 10 minutos, a roupa sai quente e fofa como um pãozinho. Excepto a que não sai, ou a que nunca deveria ter entrado. Se prezam as vossas indumentárias, seleccionem criteriosamente as peças que se adequam a essa aventura escaldante.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Noiserv, o super fofinho

O Natal e a absurda quantidade de trabalho que trouxe consigo impediram-me de escrever este texto atempadamente. Para trás ficou também o que tinha para dizer sobre Boyhood, o concerto dos 20 anos da ZDB e o Coolares Market. Escolhi o David Santos e este projecto de há alguns anos porque a) ainda não escrevi sobre música e b) caramba, o miúdo conquistou-me.

Até aqui ele era um nome no meio de outros, ao vivo apenas em 2011 no Festival do Silêncio numa homenagem a Al Berto, ou uma canção bonitinha que alguém partilhava no Facebook. Fui a convite de uma amiga e tive de fazer um esforço para me lembrar de onde conhecia o nome Noiserv, mas ainda assim não hesitei. Não se rejeita à partida um concerto que se desconhece, sobretudo no Jardim de Inverno do São Luíz, de onde nunca saí desiludida.

As mesas redondas de café deram lugar a uma pequena estrutura de plateia montada em torno do palco onde se encontravam os instrumentos e objectos variados que dão som (e luz e cor) a este projecto. O concerto super intimista foi repleto de pequenas conversas que quase sempre começavam com uma explicação do nome da próxima música e se estendiam a partilhas acerca de coisas banais, como o prazer de sair dali ao final da tarde e ainda poder andar até casa ou apanhar o eléctrico a tempo do jantar.

Noiserv consegue uma sonoridade simples, como uma coisa de criança, um sonho ou uma fantasia de carrossel tão bem espelhada no vídeo de "I was trying to sleep when everyone woke up" e ao mesmo tempo elegante, rica e cheia de pormenores deliciosos. Ao final de hora e meia de concerto, eu não precisava de mais provas: humilde e despretensiosa e por isso mágica e encantadora, a música do David é exactamente como ele.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Por fim, o céu Intraestrelado

Cheguei, vi e venci. À quarta tentativa e na segunda semana em sala, consegui finalmente ver o que andou Christopher Nolan a aprontar desta vez. Com o ano a terminar e a sua entrada para os tops de "mais visto no fim-de-semana de estreia" e "melhor abertura", o hype gigantesco que se gerou em torno de Interstellar quase me fez desistir da absoluta convicção de que tinha de vê-lo em IMAX, onde foi também campeão de vendas. Valeu-me a estreia do lixo colorido que é Hunger Games e que rapidamente desviou as atenções dos anéis de Saturno para as curvas absolutamente invejáveis da Jennifer Lawrence.

Antes de me sentar para escrever este texto, a minha ideia era falar da experiência IMAX, de como há filmes que se é para ver que seja ali ou no planetário, e entrar por aí. Mas agora que me forço a olhar para trás e a pensar no que senti ontem, já não me apetece nada disso. O que há de melhor no cinema é a forma como duas pessoas podem ver o mesmo filme em simultâneo e sentir coisas tão distintas, que são fruto do que nos torna humanos e que, como debatia ontem no pós-filme, vai para além do código genético.

De física quântica sei rigorosamente nada, mas caramba, de sentimentos percebo eu. Disseram-me alguma coisa como "houve ali momentos em que me senti angustiado", mas para mim não houve nada disso. Se por um lado o filme está cheio de ideias assustadoras, se abala por completo as nossas noções bem arrumadinhas de espaço e tempo, se nos impele a viajar no espaço para além do espaço e - a la quinta dimensão - entender tudo como um todo, por outro lado assegura-nos de que há sentimentos que atravessam tudo o que existe, reconforta-nos com a ideia de que os afectos são de alguma forma o expoente máximo do conhecimento. 

Entendo que possa ser naïve, mas isto é Hollywood baby, é disto que os sonhos são feitos. E por mais Christopher Nolan que se seja, não há como fugir, não há como escapar à absoluta necessidade de dizer-nos a todos nós, espectadores, aquilo que queremos ouvir e que é: nada bate o amor. Nem ali, nem no espaço sideral, nem no Hunger Games da sala do lado.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Do Cabaret para o Convento

Do cabaret para o convento basta atravessar a estrada. Pelo menos na rua Luciano Cordeiro, onde a mais recente das lojas "A Pousadinha", templo da doçaria conventual, é vizinha do mítico Elefante Branco. A quantidade de trocadilhos idiotas a que isto se presta é de bradar aos Céus! Ou aos Infernos, dependendo do ponto de vista. E sem esforço absolutamente nenhum. Atentem no nome de alguns dos bolos que por ali se encontram: noviça, maminha de freira, segredo de Inês, suspiro... Caramba, assim de repente até o queque me faz hesitar.

Para não fugir à tendência, escolhi um bom-bocado. E foi mesmo isso que ali passei, enquanto folheava uma revista e ouvia os empregados super simpáticos a palrar alegremente com um miúdo guloso que devorava uma queijada. Podia ter escolhido a esplanada, com árvores e chapéus de sol a lembrar as infinitas tardes de café com as amigas nos tempos de liceu, mas já começava a escurecer e o ambiente lá fora estava mais para conversas do que para leituras. Agendei para uma próxima. Por agora vou só ali ao ginásio arrepender-me deste pecado.

A POUSADINHA
Rua Luciano Cordeiro, 46 A
Seg-dom, 7h00-20h00

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Mú, não é uma vaca

O regresso inesperado do verão deu-me a desculpa de que precisava para vir gabar um dos encantos cá do bairro: a gelataria Mú, que abriu portas há 4 meses ali nos Mártires da Pátria. O prédio é um dos meus preferidos desde que me mudei, e vê-lo acolher um negócio familiar de gelados artesanais encheu-me o coração.

Quando a vi em funcionamento, fui logo meter o bedelho. Falei com os donos italianos, fiz perguntas, regressei várias vezes, levei amigos e família, elogiei-lhes a decoração e, claro, provei um montão de sabores diferentes. Nas gamas al Latte Specialitá há muito boas surpresas como o sabor de amendoim ou bolacha e nucrema. Mas do que eu gosto mesmo é dos Sorbetti, feitos com uma percentagem absurda de fruta fresca e sem lactose.

Podem não ser melhores do que os eternos Santini, mas têm uma particularidade interessante que são as misturas de sabores que funcionam lindamente em conjunto. Exemplos? Pêra e canela, ananás e hortelã, limão e gengibre. No-brainer? Talvez, mas em equipa que ganha não se mexe.

GELATARIA MÚ
Campo Mártires da Pátria, 50
Ter-sex, 12h30-20h
Sáb-dom, 14h30-20h30

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Em Parte Incerta

Declaro a sessão de cinema de ontem como a minha saída oficial e gloriosa da silly season. A escolha recaiu com naturalidade sobre David Fincher, em todo o seu esplendor e a um nível que leva a crítica a considerar este "Em Parte Incerta" como um dos filmes do ano. Mais uma vez, não vou aventurar-me em análises extensivas acerca da narrativa, desconstrução de personagens e tantas coisas que podiam (e deviam. Céus, como deviam!) ser ditas acerca deste thriller cativante e delicioso. Não sendo absolutamente imprevisível, mostra-nos muitas vezes que não é disso que se trata. Para mim, não é tanto a surpresa do que acontece, mas como e porquê. Diria melhor: para quê.

Agora que vai haver muito boa gente a odiar, isso vai. Bastou-nos olhar para as duas senhoras de meia-idade que deixavam a sala de cinema à nossa frente manifestando em voz alta o seu desagrado. Das diversas falhas gravíssimas apontadas pelas mesmas, recordo-me das seguintes: a) a duração do filme. Como toda a gente sabe, a duração apropriada deve estar entre os 90 e os 100 minutos. Mais do que isso já é um desperdício de tempo útil que poderia ser utilizado para fazer uma máquina de roupa e adiantar o jantar; b) que o filme foi "uma seca" - lá está. De novo, nada bate o entusiasmo de roupa colorida a girar no tambor.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Cerveteca Lisboa

Há dezenas de boas desculpas para visitar a Praça das Flores, mas numa sexta-feira à noite e com um grupo de amigos, esta é capaz de ser a melhor. Abriu ainda o verão começava, mas só agora que ele ameaça partir decidi brindar o mundo com a opinião de quem lá foi molhar o bico e matar a curiosidade. Digo a curiosidade e não a sede porque os preços não estão para isso... Posso até começar já por aí.

A Cerveteca não é coisa para se fazer, é para se ir fazendo. Há uma data de cervejas de outras nacionalidades? Há. Mas são tantas e tão carotas que não se provam todas numa noite. Superbock e Sagres nem vê-las, de resto até se torna difícil escolher. Os belgas e os escoceses, que percebem disto à brava, são os grandes destaques na carta. Para a mesa vieram duas Brew Dog (amber e scotch, completamente diferentes), uma Orval e uma Liefmans de framboesa.

Confesso que de cerveja percebo muito pouco. Sei dizer que a fruit beer sabia lindamente e a scotch ale nem por isso, que as pessoas foram simpáticas e gostei da estante com garrafas de rótulos coloridos. O resto da decoração é um grande bocejo. Falta ali o ambiente que sobeja em bares como o Foxtrot ou o Pavilhão Chinês... Na iluminação, no mobiliário e até nas escolhas musicais, a Biblioteca das Cervejas devia aprender com os mais velhos.

CERVETECA LISBOA
Praça das Flores, 62
Ter, 18h-24h
Qua e Qui, 14h-24h
Sex e Sáb, 18h-02h
Dom, 14h-22h

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Trendy-HotDogs

Aí há uns tempos (antes de ir de férias e ficar meses sem escrever) ia toda lampeira almoçar à Hamburgueria do Bairro por volta das 4h da tarde e qual não foi o meu espanto ao chegar e ver que o dito restaurante já lá não estava. A fome era tanta que sinceramente nem hesitei. "Ai agora é Modjo? Ai é cachorros? Tem batatas, não tem? Pronto, serve." - foi mais ou menos isto.

Sentei-me, desatei a fazer perguntas à empregada e foi assim que mesmo antes de provar, eu soube que não ia arrepender-me de ter ficado por ali. Afinal, a malta da Hamburgueria, provavelmente cansada da falta de espaço e por ter sempre casa cheia, mudou os hambúrgueres para outra rua e instalou ali os cachorros. Sim, sim, são os mesmos donos, os malandros!

Pão, salsicha de porco, alface iceberg, guacamole, chilli e nachos resultam na mistura colorida e feliz que é o cachorro com o nome da casa. Mas além desta há outras opções igualmente apetecíveis. O Sweet Relish com pickle de pepino agri-doce, o Gipsy com queijo cheddar, cebola caramelizada e cogumelos, o Veggie com salsicha vegetariana, rúcula e ratatouille.

A qualidade é aquela a que estamos habituados. Confort food da boa, com direito a salsichas a sério, ingredientes frescos, criativos e deliciosos. O pãozinho podia ser melhor... Mas os croquetes de mozzarella comoveram-me. Se pedirem essa entrada, não se aventurem com batatas e onion rings, a menos que sejam gente de muito alimento. Contra mim falo, que saí de lá praticamente a rebolar.

MODJO
Travessa Monte do Carmo, 19
Todos os dias, 12h-24h

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Há Mercado na Ribeira

Rendi-me à moda dos mercados. Confesso que andava com inveja das romarias dos meus amigos até Campo de Ourique, e por isso assim que a TimeOut anunciou a abertura do novíssimo projecto de reabilitação do Mercado da Ribeira, decidi vingar-me e ir conhecê-lo quanto antes. Fiquei fã, hei-de voltar, mas talvez quando deixar de ser novidade.

Sobre o espaço não vale a pena escrever muito. Já tantos outros o fizeram que se quiserem mesmo saber de onde vêm os candeeiros, vão pesquisar. (e depois contem-me, que havia lá uns giros de morrer)

Resumindo: está tudo muito bem organizadinho, há umas bancas ao género "take away" da Conserveira Nacional, Nós é Mais Bolos, Santini e afins, uma zona dedicada a Chefes como o Henrique Sá Pessoa e outros que sinceramente não me recordo, e nomes que a nossa barriga aprecia e que marcam presença na restauração. Uma salva de palmas para o Café de São Bento, o Honorato, a Pizza a Pezzi, o Sea Me e o Prego da Peixaria, que muito merecem ali estar.

Este último foi, aliás, a minha escolha para a refeição da noite. Já que também ainda não o tinha visitado no Príncipe Real, juntei o útil ao agradável e deliciei-me com um Yuppie de carne do lombo, maionese de manjericão, queijo cheddar e pancetta em bolo do caco da Madeira. Também dei uma trinca no Punk de cogumelo Portobello, rúcula e tomate em bolo do caco da Tandoori. São ambos deliciosos, do género comer e chorar por mais. As chips de batata doce também prometiam... Mas infelizmente não cumpriram. Como me fizeram ver mais tarde, nisto dos hambúrgueres quando há muita clientela, a batata é que paga.

E eis que chegamos ao único ponto negativo desta experiência simpática e que me faz pensar que só regresso quando se esgotar a novidade. Era terça-feira à noite. Terça-feira, não Sábado. Chovia que Deus a dava, e mesmo assim havia gente aos molhos. Demorámos um bom bocado a encontrar mesa para cinco, esperámos em filas, e uma senhora da limpeza agradeceu-me 30 vezes quando já no fim da refeição lhe confirmei que íamos levantar-nos pois estava há que tempos a tentar sentar dois ingleses que lhe tinham pedido ajuda.

Quando a senhora de limpeza se transforma em hostess, sabes que tens um problema. É mandar vir mais meia dúzia de mesas e cadeiras e fica a casa arrumada.

MERCADO DA RIBEIRA
Avenida 24 de Julho
Dom-qua, 10h-24h
Qui-sáb, 10h-02h

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Amorino à terceira vista

Hoje fui experimentar a Amorino do Chiado. Já tinha provado os crepes e os waffles na loja da Rua Augusta e como tal, só me faltava a estrela da casa: lo gelato. O preço ainda me fez hesitar... Três euros e meio por um copo pequeno não é pera doce. Mas lá me venderam aquela ideia muito trendy de que é tudo biológico, sem corantes, nem conservantes, e nos dias que correm a ausência de porcarias na comida faz-se pagar. A verdade é que nem assim esqueci a quantidade de moedas que me saltaram da carteira!

O espaço não é mau, mas é meio invernoso... Há qualquer coisa naqueles sofás escuros que me lembra chocolate quente. O melhor elogio que lhes posso fazer é que se diferenciam pela quantidade de sabores que nos permitem escolher. Ainda ponderei levar um de cada, mas fiquei-me pelos habituais manga, maracujá e framboesa, e agora sei que foi um erro. É que esses são justamente os meus preferidos naquela que é a melhor gelataria do mundo (e não, não vi o mundo todo e não, não quero saber - é a melhor) e na qual são infinitamente deliciosos. Ainda para mais isto tudo com ela mesmo ali ao lado, a vigiar a minha traição. Santini querida, perdoa-me, eu não sabia o que fazia.

AMORINO
Rua Augusta, 209
Rua Garrett, 49
Todos os dias, 10h30-24h